Embora com muitos já duvidando das metas propostas, o Departamento de Agricultura americano – USDA – acabou de lançar o seu tão aguardado “Plano Regional de Metas de Biocombustíveis e Normas de Combustíveis Renováveis até 2022.” (“Regional Roadmap to Meeting the Biofuels Goals of the Renewable Fuels Standard by 2022.”). Você pode receber o completo Plano de 21 páginas se solicitar nos comments deste post.
No documento, o USDA identificou e regionalizou culturas energéticas dedicadas, principalmente a gramínea “switchgrass”, como a plataforma prática mais importante para atingir a produção de 79 bilhões de litros de biocombustíveis avançados como parte dos 136 bilhões totais propostos.
No plano é também discutido as regiões em que se acredita que a produção de biocombustíveis como matéria-prima será mais viável, indicando a localização das instalações de bioenergia em toda nação.
O USDA projetou no seu relatório que os USA para atingir o mandatório estabelecido para 2022 de produzir 136 bilhões de litros de combustível renovável (avançados -79.3 bilhões/l – e tradicionais – 56.7 bilhões/l) , terão de aplicar o seguinte cenário:
- 50.7 bilhões de litros a partir da formação de novas culturas energéticas, incluindo gramíneas perenes, canas para energia, biomassa de sorgo;
- 1.8 bilhões de litros a partir de sementes oleaginosas;
- 16.3 bilhões de litros de resíduos de culturas (palha de milho e outros resíduos);
- 10.5 bilhões de litros a partir da biomassa lenhosa (apenas resíduos madereiros) e;
- 56.7 bilhões de galões de etanol a partir de amido de milho tradicional.
O USDA projetou um custo de investimento de US $ 2,1 por litro para construir as requeridas biorrefinarias, com uma capacidade média de 151 milhões de litros por ano para cada planta de biocombustíveis celulósicos – embora já reconhecendo que os custos de capital inicial serão bem maiores. Com estas estimativas, serão necessários um investimento de capital total de US $ 160 bilhões de dólares para construir 500até 2022.
A grande polêmica que este plano está criando é a não inclusão de projeções sobre a capacidade de matérias-primas a partir de resíduos sólidos urbanos, gorduras animais e biocombustíveis aquícola de algas – embora seja do conhecimento público que a EPA (Agencia Americana de Proteção Ambiental) em suas próprias projeções estimou o seguinte:
- 30 bilhões de litros a partir de gramíneas perenes,
- 21 bilhões litros a partir de resíduos de culturas,
- 9,8 bilhões de litros de resíduos sólidos urbanos (MSW),
- 1,45 bilhões de litros de resíduos de origem animal,
- 375 milhões de litros a partir de algas, e finalmente,
- 8,3 bilhões de de litros de combustíveis importados, é claro principalmente do Brasil.
Ninguem está entendendo estas tão grandes diferenças de projeções entre os dois planos vindos de dois ministérios de um mesmo governo ou país. Cada vez mais Friedrich von Hayek acerta no que resulta o planejamento centralizado e o que traz para as economias locais.
Outro fator sem explicação é a ausencia de qualquer previsão quanto as culturas (não somento resíduos) energéticas lenhosas como as florestas da árvore poplar .
O Plano do USDA mapeou as cinco regiões dos USA – Sudeste, Nordeste, Centro-Leste (incluindo os estados da grande planície americana), o Noroeste e o Oeste.
1. REGIÃO SUDESTE e HAWAII:
Membros. Alabama, Arkansas, Florida, Georgia, Hawaii, Kentucky, Louisiana, Mississippi, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Tennessee, Texas
Matérias-primas. O óleo de soja, canas energeticas, biomassa de sorgo, gramíneas perenes, resíduos de biomassa lenhosas
Capacidade potencial de produção. Esta região pode produzir 40 bilhões de litros de biocombustíveis avançados por ano, com a construção de 263 biorefinarias com produção individual de 151 milhões de litros por ano, estimando um custo de 320 milhões dolares por biorefinaria. Isso vai requerer um investimento total de US $ 83.8 bilhões de dólares cumulativos, para construir as 263 biorrefinarias.
USDA estima-se que uma quantidade significativa de volume, até 50% de biocombustíveis avançados, poderia vir a partir desta região, pois a mesma tem o mais longo e mais robusto período ou estação de crescimento nos Estados Unidos.
Uso da Terra: Para produzir os biocombustíveis necessários nesta região, isto é uma produção de biocombustíveis avançados de 40 bilhões de litros seriam necessários 3.8 milhões de hectares. Ou seja um total de 11,4% das áreas disponíveis hoje para agricultura alimentar e para pastagens animais.
2. REGIÃO NORDESTE
Membros: Connecticut, Massachusetts, Maine, Michigan, New Hampshire, New Jersey, New York, Rhode Island, Vermont, Virgínia Ocidental
Matéria-prima. Resíduos de biomassa lenhosas, o potencial de resíduos sólidos urbanos
Capacidade potencial de produção. USDA estima que 2,0% da produção de biocombustíveis avançados (sobretudo biomassa lenhosa) virão do Nordeste. A região poderia produzir 1,6 bilhões de litros de biocombustíveis avançados em 259 mil hectares dedicados às culturas energéticas (gramíneas perenes), mais 688 mil hectares de resíduos lenhosos colhidas anualmente. Isso vai necessitar 11 biorrefinarias, com um investimento por refinaria de US $ 320 milhões de dólares e um custo total de US $ 3,52 bilhões de investimento acumulado até 2022.
Uso da Terra. No Nordeste existe uma área agrícola cultivada para alimentos diretos e para pastagens de 6.1 milhões de hectares e 32 milhões de hectares de terras com reflorestamento. Aproximadamente 4,5% das terras agrícolas disponíveis tanto para alimentos coma para pastagem animal será necessária para atingir as metas de produção mandatória de biocombustíveis avançados para 2022.
3. REGIÃO CENTRAL-LESTE
Membros. Delaware, Iowa, Illinois, Indiana, Kansas, Missouri, Ohio, Oklahoma, Maryland, Minnesota, Nebraska, Dakota do Norte, Pensilvânia, Dakota do Sul, Wisconsin, Virgínia.
Matéria-prima. Gramíneas perenes, biomassa de sorgo, resíduos de cultivos agrícolas, grãos de soja e resíduos de biomassa lenhosa.
Capacidade potencial de produção. USDA estima que em termos de volume, 43,3% dos 79 bilhões de litros de biocombustíveis avançados requeridos até 2022, será produzido na região Centro-Leste. Isso requer US $ 72 bilhões em investimentos acumulados para construir 226 biorrefinarias, cada uma com capacidade estimada de 151 milhões de litros por ano.
Uso da Terra. Esta região tem uma área plantada de 95 milhões hectares para ambos alimentos e pastagens animais. Há mais 44 mil hectares de terras de florestas. Todas juntas poderiam produzir 34 bilhões de litros de biocombustíveis em 4.3 milhões de hectares dedicados integralmente às culturas energéticas. Existe mais de 809 mil hectares de resíduos de madeiras que podem ser colhidos anualmente. Bem, para conseguir o incremento anual na produção de biocombustíveis avançados, vai ter de ocupar 4,5% da área agrícola e de pastagens atuais nesta região.
4. REGIÃO NOROESTE
Membros. Alasca, Idaho, Montana, Oregon, Washington
Matéria-prima. Resíduos de biomassa lenhosa, gramíneas oleaginosas, resíduos de culturas de cereais.
Capacidade potencial de produção. USDA estima que 4,6% da produção de biocombustíveis avançados dos 79 bilhões de litros necessários até 2022 (principalmente vindo de culturas oleaginosas) serão provenientes da região Noroeste. Isso vai demandar um investimento 8,32 bilhões de dólares para construir 27 novas biorrefinarias.
Uso da Terra. Esta região tem uma área de 15 milhões de hectares de terras férteis agrícolas e de pastagens. Adicione a isto mais 35 milhões de hectares de terras florestais. Para produzir a 3.75 bilhões de litros será necessário 1 milhões de hectares de culturas dedicadas a bioenergia, mais 369 mil hectares para colheita de resíduos lenhosos. Isto é, será requerido 6,9% das terras disponíveis agrícolas tanto usadas diretas para alimentos como as de pastagens animais.
5. REGIÃO OESTE
Membros. Arizona, Califórnia, Colorado, Novo México, Nevada, Utah, Wyoming
Matéria-prima. biomassa lenhosa, culturas de sementes oleaginosas (ex. camelina, canola). Não foi incluído o potencial de biocombustíveis aquícola de algas.
Capacidade potencial de produção. USDA assume que 0,3% dos 79 bilhões de litros de biocombustíveis avançados até 2022 pode ser produzido nesta área. É claro, isto é só para culturas energéticas e de resíduos de biomassa lenhosa. Não está incluida a produção de biocombustíveis aquícola de algas em escala comercial que esta região oferece o maior potencial.
Uso da Terra. Nesta região existe uma base de 12 milhões de hectares de terras de cultivo e pastagem, mais 20 milhões de hectares de terras florestais. 242 milhões de litros poderiam vir de 20 mil hectares dedicados a bioenergia. Existem também 179 mil hectares de florestas nas quais podem ser colhidos resíduos lenhosos que nao foram incluidos no plano.
Conclusão
Existe um trabalho gigante à frente para chegar a estes números. Muito especialistas, entre os quais estamos incluidos, estão indagando como será possivel atingir uma produção anual de 79 bilhões de litros incluindo a construção de toda infra-estrutura de produção e processamento em 12 anos, enquanto que se levou 30 longos meses tão somente para o governo americano publicar as normas e bases deste plano que foi idealizado em 2007 ainda no Governo G. Bush.
No final pode ser que o Brasil seja na prática o grande beneficiário de todo esta demanda mandatória de biocombustíveis. Quem mais, além do Brasil, teria condição, experiencia e capaciadade para tais magnitudes? Brasileiros, uma oportunidade como esta não acontece todo dia não. Como dizia um grande sábio Nordestino: “ cavalo selado, sem ninguem montado, não passa todo dia na frentes de nossas casas não”.
O custo de investimento-capital de US $160 bilhões de dólares para construir 500 biorefinarias – além dos recursos não mencionados para estimular a infra-estrutura de produção – vão requerer uma estratégia de financiamento e um componente necessário do desenvolvimento de biocombustíveis em um mercado onde não é aplicado ainda o uso mandatório de bioenergia.
No frigir dos ovos, todo este potencial produtivo e industrial a ser montado é na realidade uma oportunidade imensa para as indústrias de biocombustíveis do Brasil e outros países tanto de equipamentos como de produção de Bio-Etanol. É uma oportunidade ímpar para os empresários brasileiros marcarem presença como nunca antes na economia americana.
A via de exportação de biocombustíveis do Brasil para os Estados Unidos, principalmente de Bio-Etanol e Biodiesel, será sem dúvida uma das maiores chances que o gigante Latino-Americano tem de transformar-se de vez na Arábia Saudita do fornecemento de energia renovável para toda a nação americana.
Não é a toa que empresas internacionais estão investindo massivamente em bio-energia no Brasil . Eles e elas devem saber o que estão planejando e fazendo.
Fonte: “Regional Roadmap to Meeting the Biofuels Goals of the Renewable Fuels Standard by 2022”. USDA. June 2010. USA.
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