Energia Solar – Por que será que os chineses estão rindo a toa quando o assunto é a industria de energia solar mundial?
Para entender a razão de toda esta felicidade, vamos começar pelas mudanças tecnológicas que estão moldando a energia solar mundial causada pela queda vertiginosa de precos dos sistemas PV chineses.
Como mostramos em post anteriores (Energia Solar Concentrada Versus Fotovoltaicos: Caída de Preços Causa Corrida para PV) várias propostas de grandes projetos de energia solar, incluindo um mega na Califórnia, mudaram recentemente de energia solar concentrada (CSP) para a fotovoltaica, mais conhecida como (PV).
Tudo mostra e indica que um redirecionamento importante no setor solar está acontencendo em grande escala forçando mudanças da tecnologias usadas por mega projetos em processo de planejamento e construção. A tendência agora parece irreversível e sem retorno com a entrada massiva dos produtos chineses no mercado.
Com estes movimentos tectônicos na Industria Solar, podemos ver que Fotovoltaica, carro chefe da setor exportador solar chinês, será agora a tecnologia dominante em grandes projetos solares. Sistemas CSP, com uma notável exceção, estão perdendo em toda a parte.
Sistemas CSP refletem o calor do sol a partir de espelhos parabólicos para uma torre central, onde criam vapor que move turbinas de energia e assim geram eletricidade.
Sua grande vantagem é que o excesso de calor pode ser armazenado, muitas vezes em tanques de sal fundido, para ser usado para produzir energia a noite ou quando o céu está nublado.
Mas CSP tem uma grande desvantagem tecnológica. O sistema concentrado precisa de água, muita água mesmo, principalmente em regiões áridas e desértica onde são normalmente instalados.
Obviamente, isso coloca CSP contra todos os outros interesses competindo por água no secos desertos. Algumas plantas CSP reciclam água. Isso faz o consumo diminuir, mas ainda assim usam quantidades substanciais de água.
Outro grande desafio enfrentado pelos sistemas CSP é a tecnologia de captura de energia solar Fotovoltaica. O mercado é competitivo para PV. Os preços estão em queda e continuará a cair. Sistemas CSP costumavam ser custo-competitivos contra os PV, mas já não são.
É muito difícil ver como a tecnologia CSP voltará a ser competitiva. Além disso, PV usa muito menos água do que CSP, o que é outro fator importante a seu favor. Embora reviravoltas tecnológicas possam acontecer decorrentes de novos avanços científicos, mas no quadro atual, PV está dominando e ganhando bonito da CSP.
O recém-aprovado mega projeto de Sonora Energia Solar no Arizona decidiu mudar para CSP e agora usará PV. Como mostramos aqui, um outro mega solar projeto nos EUA, o Blythe na Califórnia decidiu também mudar de CSP para PV.
Energia Solar – Competição Implacável Gerada pela Redução de Preços de Empresas Chinesas
A planta Blythe foi uma enorme perda de negócios para a gigante solar alemã, Solar Millennium, e provavelmente foi um fator decisivo para seu recente pedido de falência.
A usina Blythe era suposto ser a primeira 1 Gigawatt planta solar do mundo, mas a mudança para PV irá atrasar o seu desenvolvimento. Em vez disso, um projeto na África do Sul pode ser o primeiro.
A construção em Blythe foi temporariamente suspensa até que problemas gerados com a mudança sejam resolvidos. Ele recebeu US $ 2,1 bilhões em empréstimos do governo federal em 2011, mas não são quase o suficiente para todo o projeto.
Solar Millennium foi a segunda empresa alemã solar para pedir falência. Solon foi a primeira. A Alemanha tem sido um líder mundial em energia solar, mas estas duas falências colocaram sua indústria de energia solar no alerta máximo.
A competição implacável gerada pela redução de preços de empresas chinesas de energia solar bombadas por pesados subsídios do governo são fatores determinantes no mercado de PV atualmente.
Mesmo a Alemanha não é mais imune às práticas chinesas que muitos afirman de vender (dumping) sistemas PV a preços abaixo do custo.
Energia Solar – O Projeto Gigante Desertec na África ainda com CSP
No entanto, há um projeto que ainda está aparentemente comprometido com energia solar concentrada. O Projeto gigante Desertec que planeja instalar uma enorme quantidade de usinas CSP no norte da África e no Oriente Médio, e usá-lo para abastecer Europa com eletricidade.
Siemens, uma das participantes, diz que ainda apoia CSP, mas até quando? A empresa Solar Millennium era a fornecedora de sistemas CSP para este mega projeto.
Agora é difícil prever quem será o fornecedor de sistemas CSP. Também, como um aparte, Desertec tem sido notavelmente calada em conseguir novas parcerias, ou mesmo ter discussões envolvendo os países que planejam receber sua eletricidade.
É bem possível que os atuais problemas políticos europeus estejam matando totalmente este projeto, sem falar nas questão chave de uso de água. Afinal de contas, o complexo Desertec solar vai usar uma quantidade espetacular de água em algumas das áreas mais secas do planeta.
Se Desertec desiste de CSP, então é efetivamente um mega desastre para esta tecnologia, pelo menos com a conhecemos atualmente. Se continuar optando por CSP, então ainda vamos ouvir sobre esta tecnologia em tempos vindouros.
Outro país que está sofrendo com esta mudança é a Espanha. Líder mundial em Sistemas CSP, investidores deste país têm recentemente demonstrado extrema preocupação com o possível corte de subsídios do governo para o setor solar.
A Espanha está diante de uma grande crise financeira e os subsídios ao setor de energia solar, vitais para a sobrevivência da indústria CSP espanhola, estão por certo na mira dos legisladores.
Energia Solar – O que Estas Mudanças Alertam e Ensinam
Todas estas mudanças devem alertar o Brasil e outros países que estão entrando agora na Indústria Solar para que não cometam o erro de ir na contramão da história e promoverem projetos CSP quando o mundo todo está na direção contrária abrançando PV.
Os banco financiadores, como o BNDES, deveriam questionar bem qualquer projeto que queira seus recursos para promover CSP em função da realidade e tendencia mundial. Não podem cometer o erro de instalar plantas solares usando tecnologias que não são competitivas no mercado, pelos menos atualmente.
Contudo para todos os e efeitos e fins práticos, essa batalha já está praticamente ganha pela PV comandada pelos chineses. Nossos amigos asiáticos estão com aquele baita de sorriso e rindo a toa, e com toda razão, pois montaram um senhor parque industrial baseado totalmente em PV.
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Sobre o texto do artigo acho que só porque uma determinada empresa num país rico trocou a energia solar concentrada por um projeto de usina fotovoltaica, isso não quer dizer que esta última seja melhor ou muito menos mais barata. Em qualquer tipo de projeto, tanto de grande escala como de pequena escala, a energia solar concentrada é pelo menos dez vezes mais barata do que a energia fotovoltaica. Mesmo que o trabalho escravo chinês consiga reduzir os preços dos painéis fotovoltaicos em 90%, ainda assim a energia solar concentrada por espelhos é muito mais barata. Poderiam então perguntar: Por que aquela empresa nos EUA optou pela energia solar fotovoltaica então? Eu não sei porque as pessoas fazem coisas estúpidas, só sei que fazem. Tudo o que posso dizer é que não é preciso muitos conhecimentos para entender por que a energia solar concentrada é muito mais barata do que a fotovoltaica. Basta pensar no seguinte: O que é mais barato, fazer dez metros quadrados de espelhos ou dez metros quadrados de painéis fotovoltaicos? Os espelhos de vidro custam menos do que um centésimo do que os painéis fotovoltaicos e produzem a mesma quantidade de energia. Mas a energia solar concentrada é ainda mais barata do que isso. Desde o desenvolvimento do Mylar, que é um filme espelhado, muito mais barato ainda do que os espelhos de vidro, a energia solar concentrada se tornou imbatível tanto em termos de custo quanto de produção de energia. Mesmo que os painéis fotovoltaicos diminuam os preços em 95%, ainda assim vai ser mais vantajoso e barato produzir energia solar com espelhos parabólicos de mylar.