Biogás – Decididamente querendo sair da dependência do óleo fóssil e transicionar para uma economia baseada em energia renovável, muitos países como Suécia, Alemanha e Israel estão desenvolvendo agressivos programas de promoção de todas as formas viáveis de energia renovável incluindo produção de biogás.
“Biogás é uma mistura gasosa composta principalmente de gás metano (CH4) e gás carbônico (CO2) e é obtido pela digestão anaeróbia (em ausência de oxigênio) de matéria orgânica, onde microrganismos atuam em um ecossistema balanceado com limites de temperatura, pH, nutrientes e teor de umidade.
A produção de biogás pode ocorrer de forma natural, como nos aterros sanitários ou com a implantação de uma usina de biogás ou biodigestor, cujo processo é totalmente limpo, viável, eficaz e sustentável.”
Neste sentido esgotos sanitários, resíduos orgânicos industriais, das atividades agrícolas, pecuárias, aquícolas, de industrias alimentares, bem como culturas energéticas especiais, estão sendo transformados em energia útil, sustentável e viável por meio de biodigestão anaeróbia.
A Alemanha é um exemplo destes esforços. Esta nação europeia está implantando no seu processo de transição de energia um dos projetos mais ambiciosos de tecnologia de energia renovável do mundo.
Nesta transição, os germanos vão precisar de todas as fontes e recursos tecnológicos para reduzir a dependência do país das importações de combustíveis e reduzir as emissões de dióxido de carbono
Nesta nova matriz energética, o nosso tão conhecido biogás pode desempenhar um papel importante na transição alemã. Para isto, há um empenho concentrado da indústria e especialistas em biogás para integrar nas empresas agrícolas a produção de energia gerada a partir de biometano.
Um exemplo desta mudança é o que está acontecendo com empresas agrícolas centenárias que estão usando seus resíduos para produzir biogás e usarem menos energia da rua ou mesmo fornecer eletricidade para as companhias distribuidoras.
Como foi estabelecido na Europa, até 2020, 20% de toda energia e 10% de todos os combustíveis de transporte devem vir de fontes renováveis. Para alcançar estes objetivos, os países europeus estão repensando seu mix de energia.
No entanto, sem nenhuma sombra de dúvida, a Alemanha é um exemplo atual de uma nação que está extensivamente promovendo o biogás como fonte alternativa de energia, principalmente no setor agropecuário.
Biogás – Capacidade de Armazenamento de Energia Sem Custos Adicionais
Em comparação com outras fontes de energia não estocaveis, como a eletricidade por exemplo, a maior vantagem do biogás é a sua estocabilidade. Ele pode ser armazenado por até dois meses para produzir energia.
Como o biogás é armazenado na rede de gás existente, não precisa ser consumido imediatamente e sem isto causar necessidade de investimentos adicionais.
Na Alemanha, mais de 6000 biodigestores anaeróbicos convertem biomassa em biogás bruto. Esse número será mais que o dobro nos próximos dez anos.
No caso de empresas agrícolas o ciclo de energia é simples, sustentável e bem eficiente: por exemplo, indústrias liberam resíduos e/ou os campos produzem grãos e pastagens/forrageiras que alimentam o gado. Os animais, em troca, produzem esterco que é a matéria uma matéria-prima para o biogás. O biogás, por sua vez alimenta motogeradores a gás que produzem eletricidade e vapor. Este é um circuito fechado que realmente faz sentido não só na Alemanha e Suécia mas em qualquer parte deste planeta.
Biogás – Cogeração e Biometano
Há duas possibilidades de usar o biogás: na cogeração (eletricidade e calor) e como substituto do gás natural (biogás purificado ou biometano).
Cogeração só é eficaz como uma fonte local de eletricidade e calor e é menos eficiente quando o calor é usado somente em certas épocas do ano. Por outro lado, atualizando ou purificando o biogás para biometano oferece melhores oportunidades. Até 2020, o biometano é esperado suprir 10% d e toda a demanda de gás da Alemanha.
Biometano oferece um benefício duplo: gera a energia que pode ser usada para todos os usos energéticos. Por outro lado, a saída ou efluente do biogás, o biofertilizante, pode ser usado como fertilizante, reduzindo a carga sobre o meio ambiente.
Biogás – Estendendo e Promovendo a Tecnologia de Biogás na Agricultura Familiar
Desde o final dos anos 70 temos defendido, promovido e fomentado técnicas de uso dos resíduos agropecuários e aquícolas na produção de Biogás. Foi nos anos 70 que o Prof. Aécio D’Silva escreveu um dos seus primeiros livros sobre biogás intitulado: “Manual de MicroPostos de Piscicultura Integrados a Biodigestores” que foi usado em cursos e treinamentos em programas de desenvolvimento de comunidades de pequenos produtores rurais.
Desde sempre temos mostrados que o potencial de produção de Biogás e Biometano a nível de agricultura familiar é imenso. O que precisamos é ver os exemplos de países como a Alemanha, Israel e como vamos ver adiante, do Brasil, e promover de maneira mais agressiva a implantação de unidades familiares e até centrais de biogás no meiorural do Brasil e outros países em desenvolravimento.
Nestes países, os benéficos do biogás são ainda muito maiores em áreas rurais onde a queima de florestas nativas de pequeno e médio porte ainda é uma fonte de energia usadas nas cozinhas e preparação de alimentos desflorestando nossa sofrida flora silvestre.
Contudo, como acontece com os projetos aquícolas do Padre Antonio e Ivone no Rio São Francisco, o Brasil tem tecnologia e exemplos brilhantes de como o biogás pode ser uma alternativa estratégica para nos livrar da adição ao Petróleo, gerar empregos e trazer prosperidade e sustentabilidade para a agricultura familiar.
O projeto da Microcentral Termelétrica a Biogás do Condomínio de Agroenergia da Agricultura Familiar do Rio Ajuricaba, em Marechal Cândido Rondon, na região Oeste do Paraná é um marco e exemplo do potencial de biogás na agricultura familiar brasileira.
São 34 propriedades assistidas pela Itaipu Binacional, Prefeitura e Emater, dotadas de biodigestores (que recebem os dejetos da bovinocultura de leite e da suinocultura), que por sua vez produzem biogás que é enviado para a microcentral termelétrica (foto acima).
Na microcentral, os geradores produzem energia que abastece as propriedades com a possibilidade de vender o excedente para a rede pública (no caso, a Companhia Paranaense de Energia – Copel). O sistema ainda tem como subprodutos a energia térmica, utilizada para secar sementes, e o biofertilizante, que é a matéria orgânica tratada que sobra no biodigestor e pode ser aplicada em pastagens e em outras culturas.
São projetos como estes que precisamos que deem condições e conhecimentos na forma de financiamentos, treinamentos e assistência junto aos pequenos produtores rurais a fim de que possam usufruir desta forma sustentável e viável de produção de biocombustíveis e biofertilizantes de alta qualidade.
Tecnologia existe, a viabilidade é mais do que comprovada e os benefícios aos produtores e ao meio ambiente são imensos. O que está faltando para isto sair dos papeis, discursos e propaganda e se tornar realmente uma parte integrante dos programas de agricultura familiar em cada comunidade rural de países como Brasil?
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