Aquicultura, muito desprezada e incompreendida por parte da comunidade ambiental, está desempenhando cada vez mais um papel importante e estratégico em atender o crescente apetite mundial por frutos do mar sustentáveis e criação de renda e empregos para o setor primário da economia de muitos países.
Apesar de aquicultura em grande escala (o cultivo de organismos aquáticos para alimentos) ter dado sua cota em questões ambientais no passado, cientistas, ONGs e representantes da indústria estão chegando a acordos sobre normas comuns para a gestão responsável em todos os sentidos.
A necessidade de fontes adicionais de pescados sustentáveis é uma demanda mundial, como também a necessidade de serem criadas novas fontes de trabalho e oportunidades empresariais para a população rural.
Com quase metade das espécies vindas da pesca extrativa estando atualmente em perigo de sobre-exploração ou perto de depredação de estoques, segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas, a aquicultura é a única via para o aumento da oferta de seafood a nível mundial.
O declínio dos recursos pesqueiros extrativistas está acontecendo ao mesmo tempo em que estimativas de crescimento mostram que a população mundial deve ter mais 3 bilhões de habitantes nos próximos 30 anos, para não mencionar as pressões adicionais que os derramamentos de petróleo, zonas mortas oceânicas e as poluições estão causando nas populações dos animais e vegetais aquáticos em todo o planeta.
A aquicultura tem todo o potencial para cobrir a lacuna entre as demandas de uma população em crescimento e a estagnação ou declínio da produção da pesca extrativa e ao mesmo tempo criar oportunidades econômico-sociais para os produtores rurais.
Como mostramos em artigos passados, a metade dos pescados consumidos no mundo vem atualmente da aquicultura que é um dos setores de produção de alimentos que cresce mais rápido em todo o mundo.
Embora tenha tido alguns problemas localizados com o manejo do meio ambiente, a aquicultura moderna usa cada vez mais práticas e métodos ambientalmentes sustentáveis que convivem harmonicamente e conservam a biota aquática.
Estes incluem a redução do uso de farinha e óleo de peixe na alimentação de peixes cultivados, o que resulta em um uso mais eficiente dos recursos.
Hoje há uma grande preocupação no setor com um melhor controle de efluentes, preservação dos habitats aquáticos, rastreamento de todas as fases de produção e processamento, como também e uso da reprodução em laboratórios ao invés do hábito ultrapassado em capturar alevinos e juvenis selvagens.
Recentemente, a indústria aquícola tem feito progressos reais e significativos no sentido da criação e implementação de padrões amplamente aceitos de aqüicultura sustentável.
Órgãos internacionais têm patrocinado o desenvolvimento destes padrões, embora um deles pelo menos foi acusado no Vietnã de forçar a barra junto aos produtores de Pangasius para eles obrigatoriamente pagarem até sete mil dólares para ter o certificado emetido por esta organização.
Contudo, este acusação foi desmitida e agora os trabalhos de certificações estão ocorrendo normalmente e as empresas de toda a cadeia de suprimentos podem tornar-se certificadas através de vários programas de custódia.
Estes programas acompanham todas as fases produtivas dos pescados para garantir que os consumidores estejam realmente comprando seafood que foram certificados desde a aquafarm, processadora, transporte e dai por diante..
As espécies selecionadas para ser certificadas têm como base seu potencial de impacto sobre o ambiente e na sociedade, o seu valor de mercado e na medida que são comercializadas internacionalmente ou têm potencial para o comércio.
Algumas das espécies que já têm padrões definidos incluem salmão, camarão, tilápia, pangasius, truta de água doce, ostras, mexilhões, amêijoas, vieiras, abalone amberjack e cobia.
Para ganhar a certificação, as operações de aquicultura são submetidas a auditorias por organizações independentes de acreditação por terceiros e os organismos de certificação.
Os produtores assumem o compromisso de reduzir a poluição das águas, eliminar o uso inadequado de antibióticos e uso responsável da origem da farinha de peixe na alimentação animal. As operações que atendam os critérios de certificação serão capazes de utilizar o rótulo sustentável em seus produtos.
Um dos aspectos cruciais dos padrões de aquicultura sustentável é como atingir e apoiar os pequenos negócios aquícolas que compõem o cenário da aqüicultura mundial para obter certificação.
Na sua grande maioria, os pequenos aquicultores não podem pagar os investimentos em tecnologia sustentável e os custos de avaliações para receber os certificados.
Desde modo, os órgãos que coordenam a implantação deste padrões têm de desenvolver alternativas para que não se tenha a impressão de que o que eles querem é faturar alto juntos aos pequenos.
Estes orgãos além de respeitar a soberania de cada país, devem ajudar pequenas empresas aumentarem suas capacidades operacionais para o cumprimento das normas e padrões.
Eles devem apoiar nos financiamentos de novos investimentos e assegurar a formação e capacitação dos produtores nesta nova era de sustentabilidade e aplicação das melhores práticas de gestão empresarial do setor aquícola.
A indústria aquicola pode beneficiar-se amplamente pelo uso de padrões amplamente aceitos de aquicultura sustentável, ajudando os consumidores a navegar em um mercado muitas vezes confuso.
Um consumidor tentando fazer uma compra de pescados responsáveis será orientado com informações precisas sobre quais espécies estão em risco, onde o peixe foi capturado ou cultivado, e o método de pesca ou aquicultura utilizado.
Esta diferenciação do seu pescado vai certamente criar um valor agregado para seus produtos criando condições para atingir novos mercados e obtenção de preços melhores.
No final a aquicultura sustentável vai dar uma real e verdadeira contribuição na preservação dos recursos aquáticos e criar imensas oportunidades de novos empregos e prosperidade para os produtores além de se consolidar como uma das mais importantes fontes mundiais de alimentos.
Países como o Brasil, com seu imenso potencial aquícola, tem tudo para ser potencia mundial em aquicultura produzindo alimentos de alta qualidade e criando riqueza e prosperidades para os produtotores rurais.
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