Pirarucu: O Nelore da Piscicultura Tropical
Por Prof Aecio D’Silva
Pirarucu (Arapaima gigas): Não tenho dúvida que o maior peixe de escamas de água doce do rio amazonas e do mundo, tendo os componentes reprodução e biotecnologia genética desenvolvidos, tem tudo para ser na piscicultura tropical, o que a raça zebuíno Nelore é atualmente para a bovinocultura de corte.
Importância do Desenvolvimento de Biotecnologia Genética no Cultivo do Pirarucu
Pirarucu – Todos nós que lidamos com melhoramentos de animais e vegetais sabemos da vital importância que o desenvolvimento do componente Biotecnologia Genética é para o sucesso da cadeia produtiva (multiplicação, produção, processamento e distribuição) de animais e plantas fomentadas em escala comercial, iniciando com completo sequenciamento do genoma da espécie considerada.
Tomemos como exemplo a pesada biotecnologia genética formada por dezenas de laboratórios e empresas de tecnologia de ponta que suportam hoje a raça de gado de corte Nelore. Recentemente, como divulgamos neste blog (Nelore: Concluído 100% do Sequenciamento Genético da Raça Nelore. E o Pirarucu?), foi feito o completo sequenciamento do genoma do Nelore (Bos primigenius indicus).
Com o atingimento desse importante marco histórico do conhecimento genético associado com as ferramentas biotecnológicas atualmente disponíveis, foi aberto um universo imenso de possibilidades de melhoramentos em todos os sentidos da criação de animais zebuínos em todo mundo.
Baseado em seu desempenho (atinge até 16 kg em um ano de cultivo) treinado e alimentado com ração balanceada, podemos afirmar sem dúvidas que, se devidamente apoiada, fomentada e o componente biotecnologia genética desenvolvido, a criação do Pirarucu poderá ser brevemente para a piscicultura, o que a raça de gado Nelore é atualmente para a bovinocultura. Em breve, quem sabe poderíamos ter o que chamaríamos de reprodutor de Pirarucu P.O.A (Puro de Origem Aquática)!!!
Todos com os que trabalho sabem que sou um promotor do cultivo de Tilápia. Desenvolvemos e estamos desenvolvendo mini, micros, pequenos, médios, grandes e mega projetos do peixe da multiplicação de Jesus Cristo. Os terminados estão operando com rentabilidade em várias partes do mundo gerando empregos, combatendo a fome e gerando prosperidade sustentável.
Temos avançado muito na biotecnologia genética da Tilápia Nilótica. Temos raças puras estabelecidas, padronizadas, estabilizadas e geneticamente marcadas que passaram por mais de 41 gerações de melhoramentos.
Nossas raças são altamente adaptadas para o cultivo super intensivo em Sistemas AquaBioPonics de circulação fechada. Achamos um desperdício muito grande usar a água só para criar peixes, enquanto podemos fazer tanto mais com a mesma água.
Nosso lema é zero emissão, mínimo uso dos recursos naturais tão escassos na terra e maximização de resultados focalizados nos consumidores. É nosso lema de aquicultura sustentável de Zerar-Minimizar-Maximizar em tudo que fazemos.
Contudo, muitos sabem também que não é de hoje que defendo, acredito e divulgo o cultivo do Pirarucu. Todos que visitam este site ou assistem minhas conferências, cursos e seminários sobre aquicultura sustentável e sistemas AquaBioPonics sabem da minha pregação sobre o potencial das espécies nativas brasileiras, entre elas destaco em pole position, o pirarucu (Pirarucu Ganho de Peso de 16 Quilos em Um Ano!!!).
Sempre afirmo que o Arapaima tem todas as qualificações para ser um dos mais importantes peixes da aquicultura mundial ou o que chamo para fácil entendimento: Pirarucu, o Nelore da Piscicultura Tropical.
Mesmo focalizado em gestão de liderança sustentável, biotecnologia genética, aquicultura sustentável e energia renovável, sempre acompanho o que está acontecendo com a bovinocultura, principalmente, a raça Nelore.
Para que todos vejam, entendam facilmente e se conscientizem do enorme potencial desse peixe amazônico, uso a expressão em minhas palestras, cursos e seminários que o Pirarucu é o Nelore da piscicultura tropical. Faço comparação entre as duas espécies de corte mostrando o que o Arapaima tem para oferecer.
Defendo que devemos ter para o Pirarucu, o mesmo desenvolvimento, suporte e embasamento de biotecnologia genética que hoje temos para o Nelore.
Sabemos que tanto para o Nelore como para o Pirarucu, os avanços biotecnológicos como o sequenciamento genético é um passo super importante para o real domínio e eficientização da criação ou cultivo de qualquer espécie terrestre ou aquática em qualquer parte do planeta principalmente para espécies exploradas intensivamente.
Pirarucu – Um Resumo da Historia da Piscicultura do Arapaima gigas
Faz parte da minha vida profissional sempre que possível lembrar e nunca esquecer daqueles e daquelas que com esforços, sacrifícios e dedicações imensas fizeram com que chegássemos onde estamos hoje. É muito comum pessoas chegarem a um ponto de destaque conhecimento ou poder e esquecerem todos que deram muito de si para construir o que temos hoje. Eles e elas não podem ser esquecidos.
No caso do cultivo do Pirarucu são muitos. Mesmos correndo o risco de esquecer vários, vamos relembrar alguns heroicos pioneiros da piscicultura deste tão importante peixe.
A história das primeiras tentativas de reprodução controlada em cativeiro e a introdução do cultivo do pirarucu remotão aos trabalhos desbravadores no DNOCS nas décadas de 40 e 50, do pesquisador Osmar Fontenele (1953) no Posto de Piscicultura de Lima Campos do DNOCS. Este é um marco importante que não podemos esquecer.
Embora sem ser diretamente focalizado no pirarucu, não podemos também de deixar de citar a contribuição no DNCOS do emblemático Dr. Rudolph Von Ihering, considerado o pai da piscicultura brasileira. Considero que Dr. Von Ihering foi tão importante para a piscicultura nacional como Albert Einstein foi para a física quântica.
Deve ser sempre lembrado que baseado nos trabalhos de Dr. Von Ihering, foi que o brilhante e saudoso, Dr. Elek Woynarovich (1915 – 2011) se inspirou para desenvolver sua primeira hipofisação ou desova induzida de peixes em 1950. Foram os fundamentos para seu incansável esfôrço técnico-científico nos próximos 43 anos na produção de alimentos e combate a fome em todo o mundo, inclusive no Brasil.
O que Dr. Von Ihering criou e o Dr. Woynarovich aperfeiçoou para o mundo, principalmente para o Brasil, representou um passo imenso e decisivo no desenvolvimento da piscicultura, praticamente em todo o planeta e por certo inspiraram a muitos, como o autor deste artigo, no descobrimento do pirarucu.
Na história mais recente da piscicultura do Pirarucu, não podemos deixar de registrar, os trabalhos de Emir Imbiriba (2001) que foram os fundamentos usados por muitos outros técnicos e piscicultores para implementarem técnicas de reprodução e cultivo do Arapaima gigas.
Devemos ressaltar a visão, experiência e os trabalhos práticos desbravadores de Martin Halverson e Eduardo Ono detalhados nos manuais de Boas Práticas de Reprodução, Cultivo e Produção do Pirarucu em Cativeiro recém lançados pelo Sebrae como marcos importantíssimos no fomento da piscicultura do Arapaima gigas no Brasil e em várias partes de mundo.
Estes manuais são leituras obrigatórias para todos aqueles que querem aprender o cultivo desta espécie amazônica. A valiosa contribuição dada pelo Sebrae com estas publicações será sempre marcada como uma das mais importantes ações para realmente introduzir do Pirarucu na aquicultura comercial.
Finalmente, devemos destacar a decisiva atuação do programas de tv educativos promovendo o Pirarucu e mostrando os trabalhos e a coragem de visionários, como o produtor Megumi Yokoyama, de Pimenta Bueno, popularmente conhecido como “seu Pedrinho”, que iniciou suas pesquisas com alevinos de pirarucu há cerca de 30 anos.
A iniciativa de Pedrinho acabou pulverizando matrizes de pirarucu por várias propriedades de Rondônia. “Vendi uma carreta para comprar 800 espécimes, na época me chamaram de louco”, lembra seu Pedrinho. “De cara, morreram uns 500 peixes. Os outros 300 acabei distribuindo entre os produtores da época. Foi a maneira que encontrei para garantir a sobrevivência da espécie”, confirmou”.
Podemos afirmar sem dúvida que a reprodução e cultivo do Pirarucu na atualidade deve muito aos trabalhos desbravadores como os de Imbiriba, Ono, Malverson, Sr. Pedrinho, Empresas Públicas e Privadas como a Embrapa, Mar-e-Terra, o Projeto Pacu, o Projeto Estruturante do Pirarucu da Amazônia do Sebrae e muitos outros que fizeram o Pirarucu uma realidade comercial no Brasil.
Biotecnologia Genética – Um Ponto Crítico tanto para o Nelore como para o Pirarucu
O pirarucu é encontrado comumente na bacia Amazônica crescendo até 3m de comprimento e pesando até 250 kg,, mais especificamente nas áreas de várzea, onde as águas são mais calmas e é conhecido também como o bacalhau da Amazônia. Seu nome vem de dois termos indígenas: pira, “peixe”, e urucum, “vermelho”, devido à cor de sua cauda.
O Arapaima gigas é um peixe da família Osteoglossidae (mais recentemente classificado como Arapaimidae – língua óssea) de respiração aérea obrigatória e de mais rápido crescimento que conheço. É conhecido da aquicultura há muito tempo. Porém, as limitações técnicas enfrentadas pelos pioneiros do cultivo desta especie nos anos 50 não permitiram o seu fomento em escala comercial.
Desde que me adentrei na aquicultura como estudante de Engenharia de Pesca na Universidade Federal Rural de Pernambuco, que percebi o potencial de Pirarucu para a aquicultura.
Atualmente, a reprodução e a engorda em cativeiro do pirarucu é uma realidade, embora ainda se tenha muito que aprender e dominar sobre o Arapaima. Entretanto, desde que se tenha suprimento de alevinos, ração e a capacitação correta, o seu cultivo já pode ser fomentado com todas as possibilidades de sucesso no Brasil.
Comparando com o que a criação do Nelore (Bos primigenius indicus) representa hoje para a Bovinicultura, não temos dúvida que o Pirarucu pode representar num futuro próximo o mesmo para a piscicultura tropical.
Senão vejamos. A raça zebuína, é a principal criada em terras brasileiras, com 90% do rebanho. Além disto, hoje, 90% da carne produzida no Brasil é oriunda de animais zebuínos. Suas características marcantes são crescimento precoce, rápido ganho de peso, ossatura leve, menor proporção de cabeça, rusticidade, docilidade, rápido crescimento, carne saborosa de grande aceitação, resistência a enfermidades e calor e super aceitação no mercado nacional e internacional. Isto tudo, o Pirarucu oferece para a piscicultura tropical.
Porém, dezenas de indicadores-marcadores genéticos existem no mercado para a raça zebuína. O que não acontece com o Pirarucu. Atualmente, indicadores de qualidade da carne, teor de gordura, precocidade, resistência a certas doenças e ao calor, capacidade reprodutiva e do desempenho do animal como um todo, podem ser identificados e conhecidos a partir de um embrião usando tecnologia de ponta baseados no sequenciamento genético do Nelore concluído em 2011.
Entretanto, o mesmo podemos atingir para o Pirarucu e é nisto que devemos concentrar nosso esfôrços e trabalhos de biotecnologia genética do Arapaima gigas.
Podemos isolar marcadores genéticos fixos e variáveis. Esses últimos são os que interessam nos trabalhos seguintes de biotecnologia genética tanto do Nelore como do Pirarucu.
A partir deles, é possível saber tudo sobre um bezerro que acaba de nascer ou um juvenil candidato a reprodutor de pirarucu: qual será o peso que atingirá na idade adulta, qualidade da carne, com que idade estará pronto para o abate, sexo, velocidade de ganho de peso, qual será sua resistência a certas doenças, crescimento precoce, rusticidade, capacidade reprodutiva e dai por diante.
Cada criador ou produtor só manterá em seu plantel no papel de reprodutores machos e fêmeas capazes de transmitirem a seus descendentes as características que lhe interessam. Quem quer vender carne premium vai buscar os marcadores genéticos relacionados à maciez, à suculência e ao índice de ácidos graxos do filé.
Parece um sonho impossível? Lembre como chamaram Sr. Pedrinho de maluco quando trouxe os pirarucus para Rondônia? Desta vez na genética não vai ser diferente. Acontece que como Sr. Pedrinho não sabia que era impossível, foi lá e fez acontecer.
Tudo isso que estamos sugerindo é hoje totalmente possível com a tecnologia de punta existente. Por exemplo, atualmente nosso grupo tem todo o conhecimento e biotecnologia genética para atingir todos os avanços que se conseguiu para a criação do Nelore, na genética do Pirarucu. Estamos quase atingindo isso isto com a génetica da Tilápia.
É claro que há um grande caminho pela frente cheio de desafios para ser percorrido. Contudo, tudo tem um começo, e é neste que devemos trabalhar. Devemos dar nossa contribuição para tornar uma realidade o Pirarucu ser o Nelore da Piscicultura Tropical em todos os sentidos e atingimentos.
Em artigos seguintes continuaremos demonstrar todo o potencial que o cultivo e processamento do Pirarucu pode fazer pela piscicultura tropical.
Prof. Aecio D’Silva
Click aqui para assistir dois excelentes vídeos do Globo Rural sobre o Cultivo do Pirarucu.
*As completas referências bibliográficas inclusive os manuais do Sebrae estão disponíveis para quem solicitar.
Gostei muito bom.