Quando a cidade de Kristianstad, localizada no sul da Suécia, estabeleceu há uma década passada que ficaria indepedente dos combustíveis fósseis, muito gente classificou como uma meta impossivel, tais como determinar que teria taxa zero de acidentes de trabalho ou que ninguém teria mais gripes e refriados no município.
Mas a cidade Sueca mostrou que suas metas eram não só tangíveis, mas reais e atualmente vive isto no seu dia-a-dia: uma comunidade com uma população de 80.000 habitantantes, praticamente não usa petróleo, gás natural ou carvão para aquecer casas e empresas, mesmo durante os longos invernos gelados da Europa.
Foi uma mudança radical da realidade existente há 20 anos, quando todo o seu aquecimento era baseado em combustíveis fósseis. A cidade é quase que totalmente movida à energia renovável.
Kristianstad está localizada em uma região que é um epicentro do processamento agrícola e alimentar, que gera energia a partir de um número variado de matérias-primas como cascas de batata, estrume de gado, restos de comida, óleo de cozinha usado, biscoitos vencidos e intestinos de suínos.
Um industrial biodigestor localizado na periferia de Kristianstad utiliza o processo microbiológico de transformação dos resíduos orgânicos em biogás, uma forma de metano e biofertilizantes. O gás é queimado para gerar calor e eletricidade, ou é refinado como combustível para carros.
A usina de biogás de Kristianstad processa (biodigere) resíduos domésticos, industriais e agrícolas e produz biogás para a central de aquecimento local do distrito, e abastece a frota de veículos de transporte da prefeitura. Todos os 28 ônibus municipais são movidos 100% a biogás.
Veículos movidos a biogás são semelhantes aos carros a gasolina. Um carro movido a biogás tem a mesma aparência de um carro normal. A diferença é o impacto no meio ambiente. Os veículos que rodam a biogás liberam muito menos poluentes do que um carro a combustível fóssil. O mesmo acontece com os carros movidos a biodiesel.
Automóveis de passageiros bi-combustível têm dois tanques separados, um para o biogás e outro para a gasolina. Se o biogás acaba, a alimentação de combústivel é mudada para gasolina. É como um carro comum com dois tanques de combústiveis.
Das 73.000 toneladas de lixo orgânico processado pela usina de biogás de Kristianstad a cada ano, os resíduos domésticos e resíduos diversos compõem cerca de 5 por cento cada, respectivamente, e o restante é composto por dejetos animais e resíduos resultado de processamento agrícolas.
O equivalente a 20.000 MWh de biogás é recuperado anualmente, 17.900 MWh enviado para a usina de aquecimento urbano e o restante é usado local.
A cidade também queima os gases provenientes de um antigo aterro sanitário e lagoas de águas residuais, bem como resíduos de madeira das fábricas de pisos e podas de árvores que são transformados em fonte de energia sólida em forma de aglomerados de madeira.
Biogás na Europa e Estados Unidos
Nos últimos anos, muitos países europeus têm estimulado o uso da energia renovável, desde parques eólicos, solares, hidrelétricas, e biodigestores porque os combustíveis fósseis são pesadamentes tarifados pela União Europeia como em nenhum outro local na terra.
Sendo assim, para muitas regiões agrícolas européias, um componente crucial do mix de energias renováveis é o biogás extraído a partir da biomassa, tais como resíduos agrícolas e restos de alimentos.
Só na Alemanha, existem cerca de 5.000 sistemas de geração de energia a biogás, em muitos casos em fazendas individuais.
Kristianstad foi mais longe, o aproveitamento do biogás transformou a realidade energética da comunidade reduzindo pela metade seu consumo de combustíveis fósseis e cortando as emissões na cidade de dióxido de carbono por um quarto, na última década.
Segundo autoridades locais biogás é uma fonte de energia muito mais segura do que importar óleo fóssil do Oriente Médio ou da Noruega além de ter criados empregos no setor de energia da região.
Nos Estados Unidos, os sistemas de biogás estão ganhando força. Existem centenas de biodigestores de biomassa em operação no país, a maioria deles em pequenas fazendas e usando apenas esterco Segundo a Agência de Proteção Ambiental, a E.P.A., estima-se que o país tem potencial para instalar plantas de biogás em mais de 8.000 fazendas.
Potencial do Biogás no Brasil, Portugal e Angola e outros Países Lusitanos
No caso de Brasil, Portugal e Angola, entre outros, o potencial de produçao de biogás a partir de matéria organica residual é muito grande . Estercos de fazendas leiteiras, resíduos de indústrias de alimentos, lixos domésticos e municipais,e dai por diante, são que não faltam nestes países.
Como temos mostrado em posts passados (Biocombustíveis – A Força do Biogás), a produção de biogás a partir de resíduos orgânicos é mais uma tecnologia completamente dominada e disponível para uso tanto em pequena escala (casas e residências) como em larga escala e industrial.
É claro que tanto o gás natural como o biogás liberam emissões quando queimados, mas muito menos do que o carvão e o óleo do petróleo. E, ao contrário do gás natural, que é bombeado do subsolo, o biogás é considerado como uma fonte de energia renovável sendo feito a partir de resíduos biológicos.
Estes resíduos quando não transformados em biogãs e biofertilizantes, se decompõem nos campos agrícolas ou aterros sanitários sem nenhum benefício, e o mais grave, liberando metano quando poderiam está sendo usado como fonte de combústivel e biofertilizantes para a comunidade.
Como Kristianstad, muitas cidades e fazendas poderiam produzir energia a partir de resíduos do processamento de alimentos e das fazendas leiteiras, substituindo os combustíveis fósseis em suas necessidades.
Outra vantagem é que as unidades de biogás podem processar enormes quantidades de restos de comidas de casas e restaurantes como também o esterco que normalmente vão poluir o ar e os recursos hídricos.
Coexistência do Velho e do Novo
Em Kristianstad, as velhas tecnologias de combustíveis fósseis coexistem desajeitadamente ao lado de seus substitutos de biomassa. O tipo de caminhão tanque que era usado para entregar óleo de aquecimento agora entrega aglomerados de madeira, o combustível de aquecimento mais usado nas áreas mais remotas da cidade.
Contudo, os custos de tudo isto, coberto pela cidade e através de subsídios do governo sueco, têm sido consideráveis: o sistema de aquecimento central a biomassa custou US $ 144 milhões, incluindo a construção de uma nova unidade de gaseificaação, redes de tubos, substituição e instalação de fornos e geradores.
Mas as autoridades dizem que o retorno já foi significativo: Kristianstad agora gasta cerca de $ US $3,2 milhões por ano para aquecer os edifícios municipais, em vez de US $7 milhões que gastaria se ainda dependesse do petróleo e da eletricidade.
A cidade abastece seus carros municipais, ônibus e caminhões com biogás, evitando a necessidade de adquirir cerca de 1,85 bilhões de litros de diesel ou de natural gás a cada ano.
As operações na unidade de biogás e as instalações de aquecimento trazem dinheiro, porque as fazendas e fábricas deixam de pagar taxas de coleta dos seus resíduos e as usinas de energia renovável vendem o calor, eletricidade e combustível do carro que eles geram.
O próximo desafio são os carros de transporte locais que respondem atualmente por 60 por cento da utilização de combustíveis fósseis. Os planejadores da cidade querem que os motoristas utilizem carros movidos a biogás na cidade como os veículos municipais já fazem. Isso exigirá aumento da produção do combustível renovável.
Como passo inicial, o município criou um pool de automóveis com carros movidos a biogás e já existem algumas empresas privadas e famílias utilizando veículos movidos a biogás.
A cidade sueca está planejando a construção de mais usinas de biogás em áreas satélites e zonas periféricas, como também, expandir sua rede de tubulações subterrâneas de biogás para permitir a construção de mais postos de abastecimento.
Exemplos como o de Kristianstad, na Suécia, mostram que o uso planejado de todas as fontes de geracão de energia renovável pode ser um fator importante na independência e substituição de petróleo fóssil tanto a nível local como em comunidades.
A questão é começar unidade pilotos de menor escala, mostrar a viabilidade do processo e partir daí expandir até onde seja economicamente viável e ambientalmente sustentável. Um bom início seria processar em biodigestores os resíduos alimentares de grandes restaurantes e cantinas industriais como é o caso de unidades militares e grandes empresas.
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