Genes Egoístas – Em toda história da humanidade, os mosquitos têm sido vetores de doenças nas populações de cada região, em cada nação. Hoje, as doenças transmitidas por mosquitos estão presentes principalmente na faixa equatorial, o que representa grandes riscos para metade da população da Terra e causam doenças em mais e 750 milhões de pessoas anualmente.
Malária e dengue são as infecções mais comuns transmitidas por mosquitos, mas o vírus do Nilo Ocidental nas Américas e febre de chikungunya e encefalite japonesa na Ásia e Oceania estão emergindo rapidamente. As áreas típicas as condições de transmissão estão aumentando, atribuível a uma maior difusão das raças cada vez mais virulentas.
Como temos mostrado aqui, a malária é ao mesmo tempo uma calamidade e tragédia mundial em centenas de países.
Segundo dados da OMS estima-se que cerca de 1,5 milhões de pessoas morrem todo ano causado por esta doença transmitida pelos mosquitos infectados e que mais de 3 bilhões já morreram vítimas desta enfermidade em todo o mundo.
Deste total, 90 por cento são jovens e 71 por cento tem idade abaixo de cinco anos. Só para termos uma idéia dos estragos causados pela malária, o custo anual somente para o continente africano em perdas do seu GDP é cerca de USD $10 bilhões de dólares o que corresponde a 40 porcento de tudo que o continente gasta em saúde pública.
Mais de 100 países registram esta enfermidade como um dos problemas graves de saúde dos seus habitantes. No continente africano, a nossa querida Angola é atingida duramente por esta enfermidade. Trinta e três por cento (33%) das mortes dos infantes e vinte e cinco (25%) por cento das mortes das gestantes em Angola são causadas por malária.
Genes Egoístas – Engenharia Genética em Ação
Contudo, um avanço científico conseguido recentemente, que permitiu mosquitos geneticamente modificados cruzarem com aqueles em estado selvagem, poderia transformar o mundo em uma paisagem livre da malária nas próximas décadas.
A descoberta de um grupo de cientistas britânicos e americanos foi publicada recentemente no jornal Nature. Se for bem sucedida, isso significa que os pesquisadores estarão a um passo de ser capaz de mudar o DNA de mosquitos selvagens, a fim de combater a malária.
Os ensaios, que foram realizados até agora em condições de laboratório, permitiu que um gene de um pequeno número de mosquitos modificados pudessem multiplicar tornando-se na maioria da população em apenas algumas gerações.
Nos experimentos, igual número de organismos geneticamente modificados e ordinários mosquitos “selvagens” foram colocados para se alimentar de ratos infectados com malária.
A proporção que se reproduziam, muitos dos mosquitos GMO ou transgênicos sobreviveram. Depois de nove gerações, 70% dos insetos pertenciam à variedade resistente à malária.
Os cientistas também inseriram uma proteína fluorescente verde (GFP), no DNA dos mosquitos geneticamente modificados que fez seus olhos brilharem num verde intenso. Isso ajudou os pesquisadores a contar com mais facilidade os insetos transgênicos e não transgênicos.
Os mosquitos transgênicos têm uma vantagem física sobre os não-transgênicos. Os GMO mostraram um índice de sobrevivência maior e produziram mais ovos.
A esperança é que, se o gene correto poder ser espalhado nas populações selvagens, isto poderia reduzir o número de casos de malária drasticamente e em curto prazo.
Na realidade os pesquisadores criaram “um mosquito resistente a malária”, utilizando técnicas de engenharia genética introduzindo genes que paralisam o desenvolvimento do parasita.
Mas o objetivo fundamental da nova pesquisa, segundo a publicação, é de transformar esses resultados em medidas práticas de controle. Isto vai exigir uma tecnologia eficaz para espalhar os mosquitos obtidos em laboratório nas populações de campo.
O grande desafio ainda é fazer com que os genes se expressem (propaguem) dos mosquitos geneticamente modificados para o grande número de insetos silvestres em todo o globo. Contudo, a não ser que o gene confira uma vantagem ao mosquito, é provável que desapareça.
Os cientistas, acreditam ter encontrado a solução. Eles introduziram um gene que é muito bom em se defender e cuidar de sua permanência no DNA do mosquito – uma endonuclease homing chamado I-SCEI – uma classe de simples elementos genéticos egoístas que foram usados para este objetivo.
A análise molecular confirmou que a expressão de I-SCEI na linhagem germinativa masculina induz altas taxas de cromossômicas site-especificas e clivagem da conversão do gene, o que resulta no ganho do gene I-SCEI, mantém o gene no DNA e sustenta a unidade genética observada.
O que acontece é que o gene produz uma enzima que corta o DNA em dois. A máquina de reparação das células, em seguida, usa o gene como um modelo (template) para reparar o corte. Como resultado, o gene endonuclease homing é incorporado e copiado. Faz de tal forma que todo o esperma produzido por um mosquito macho carrega o gene dominante que é herdado e expressado por todos os seus descendentes.
O processo é então repetido nas gerações (F1, F2,F 3,..) seguintes dos filhotes que têm e repassam o gene às outras gerações e assim por diante. Nos experimentos de laboratório, o gene foi herdado dominantemente em 70% dos mosquitos em cativeiros em 9 gerações. Segundo os pesquisadores este é passo muito importante.
Este é um excitante atingimento da engenharia genética que poderá abrir o caminho para outras soluções de muitos problemas de saúde global, como é caso da Dengue no Brasil.
Com o uso avançado desta tecnologia é possível a introdução de genes que tornam os mosquitos os animais alvos, não os humanos, impedem o parasita de se multiplicar nos insetos e todos os descendentes são do sexo masculino que não transmitem a malária.
Em outras palavras e quem diria: um gene egoísta, que aplica a famosa lei do Gerson de levar vantagem em tudo, pode ser a solução para salvar o Planeta Terra da tragédia mundial da malária???