Tilápia: O Peixe da Multiplicação, de São Pedro, dos Americanos, dos Chineses e de Todos Nós

Senhorita Ivone com Tilápia Cultivada na Associação de Jovens Criadores de Peixes em Tanques Rede de Jatobá Pernambuco-Brasil

Tilápia é freqüentemente chamada de “St. Peter’s Fish (Peixe de São Pedro) “, porque de acordo com o Livro Bíblico de Mateus (17:27) o peixe que Pedro pescou, a pedido de JESUS, com a moeda na boca foi uma tilápia.

Além disso, o milagre de JESUS CRISTO no qual ELE alimentou  uma multidão de cinco mil pessoas a partir de cinco pães e dois peixes (Mateus 14:15-21) também pode ter sido “duas tilápias” pois esta é a espécie mais encontrada no Mar da Galiléia, em Israel. No presente século Tilápia é conhecida como “peixe maravilha “.

A Tilápia é tanto um gênero de peixes da família Cichlidae como o nome comum para quase uma centena de espécies de água doce e alguns peixes ciclídeos de água salobra pertencentes a três gêneros: Tilápia, Sarotherodon e Oreochromis.

A mais importante e abundante na pesca e produção aquícola é a Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), seguida da Tilápia azul (Oreochromis aureus),  Tilápia mozambique ( Oreochromis mossambicus), Tilápia galiléia ou mango (Sarotherodon galilaeus) e Sabaki Tilápia (Oreochromis spilurus spilurus).

Elas são nativas da África e do Oriente Médio. Tilápias Azul e Mango são na maioria vindas da pesca extrativa em quantidades limitadas, enquanto Tilápia Sabaki é apenas cultivada.

O Peixe da Multiplicação que Caiu na Graça dos Americanos

Tilápia,  um produto alimentar suave que cresce rápido e caiu na graça do consumidor americano. O Peixe da Multiplicação que muitos ambientalistas querem distância, mas os americanos continuam amando e consumindo cada vez mais.

Uma década atrás, poucos americanos tinham conhecimento ou consumiam Tilápia. Lembro quando falávamos em Tilápia poucos sabiam o que era. Muitos diziam que isto nunca iria dar certo. Nas realidade, até 2002 o peixe da multiplicação não fazia parte nem mesmo da lista dos 10 pescados mais consumidos nos EUA. Neste ano, Tilápia apareceu com um consumo médio de apenas 136 gr per capita.

Contudo a história mudou e a demanda cresceu com o colapso da pesca do bacalhau do Atlântico. Em 2009, segundo dados divulgados pelo USDA, os americanos consumiram 544 gramas de tilápia per capita, quase cinco vezes mais do que em 2002.

Este valor colocou o peixe da multiplicação bem à frente de bacalhau e catfish e logo atrás do pollock que é o peixe branco mais popular nos EUA . O camarão é o seafood mais consumido pelos americanos com  1,85 quilos de consumo per capita, e atum enlatado vem em seguida com de 1.1 quilos. O incrível Panga já está despontando como o décimo pescado mais consumido nos EUA.

Tanto na China como no Vietnã, a Aquicultura exercem um papel prepoderante na geração de divisas para estes países. Em artigos anteriores motramos como no Vietnã, em menos de 20 anos a indústria do Pangasius tem transformado o panorama econômico social de toda a região do vale do rio Mekong (Pangasius: O que Fez pela Economia Vietnamita Nestes Últimos 20 Anos – Parte I ).

O cultivo do Panga é um exemplo de como um setor aquícola estimulado pode ser um instrumento estratégico na criação de empregos e rendas para os produtores rurais. O Vietnã já exportou este ano mais de US $1,2 bilhões de dólares com os produtos do Pangasius.

A Competição que Vem da China

Como mostramos também em artigos anteriores, o valor das exportações aquáticas chinesas  nos dez  primeiros meses do 2010 incluindo a tilápia, mariscos, pérolas e outros produtos aquícolas, incrementou em 26 % atingindo um recorde de US $ 10,7 bilhões de dólares, superando as importações em US $ 5,3 bilhões, informou o ministério. As importações caíram 0,7 por cento.

As exportações de Tilápia para as Américas têm um papel crucial nestes números. Os Chineses são sem dúvidas os maiores produtores mundiais de Tilápia, como os vietnamitas são do Pangasius.

Contudo, diferentemente do Panga, a Tilápia chinesa é na sua grande maioria de baixa ou péssima qualidade. Mesmo assim, o país asiático usa de todas as estratégias mercadolólogicas para dominar o mercado americano. Uma delas é o preço altamente subsidiado e mutas vezes abaixo do custo de produção.

Contudo, apesar da qualidade a desejar e das advertências ambientais sobre a tilápia chinesa vindas de grupos como a vigilância de Frutos do Mar do Monterey Bay Aquarium’s Watch, que publica uma lista de frutos do mar e as Tilápias chinesas estão no top do grupo “evitar”, o consumo nos EUA continua crescendo.

E aí é que vemos o cultivo no continente do Peixe da Multiplicação e de São Pedro com uma grande oportunidade para os aquicultores das Américas. Como todos vocês sabem somos defensores incansáveis de uma forte presença nossa no mercado de pescado no continente americano.

Defendemos o desenvolvimento e estímulo da aquicultura em todos os países da nossa região. Devemos resistir todas as investidas de controle por grupos que querem dominar e controlar nossos mercados.

De acordo com o Departamento de Comércio dos EUA, cerca de 80 por cento da tilápia congelada nos Estados Unidos é hoje importada da China, com restaurantes e supermercados sendo os maiores compradores.

A demanda de Tilápia tem crescido a uma taxa nunca vista, a não ser com o que está acontecendo com o Pangasius a nível mundial. Atualmente, uma única empresa distribuidora de Tilápia nos EUA tem mais de cinquenta produtos de valor agregado lançados com sucesso no mercado americano.

Em 2009 os EUA importaram 183,2 mil toneladas de Tilápia, comparadas com 135 mil toneladas em 2005. A rede Wal-Mart  importa mensalmente cerca de 200 contêineres, ou quase 4,000 toneladas cada mes vindas da China.

Isto quase destroi os produtores de Tilápia locais que não podem concorrer nem atender esta demanda. Praticamente toda a importação americana vem da Ásia ou América Latina.

Ninguêm tem dúvida que a demanda crescente americana por Tilápia resultou no incrível crescimento da aquicultura chinesa.  Foram  construidos centenas de laboratórios e centros de reprodução, grandes fazendas, fábricas de rações e plantas de processamento só para o mercado estudunidense.

Entretanto, a indústria da aquicultura mundial da tilápia dominada pela China deve preocupar todos nós.  As técnicas chinesas de usar fezes animais para cultivar tilápia é uma prática que os produtores das Américas não podem e não devem fazer.

Consequentemente, os custos de uso de alimento de baixa qualidade associado a pesados subsídios dado aos produtores asiáticos por seus países asfixiam os produtores americanos deixando-os praticamente e injustamente fora do mercado.

Apesar de todos estas limitações, as possibilidades e oportunidades são muitas de diversas. Muitas empresas americanas já baniram a Tilápia chinesa da lista dos produtos oferecidos. Megas Empresas como as Redes Costco e Sprout, por exemplo, não compram tilápias criadas em fazendas chinesas devido as preocupações com as normas de produção do país.

As tilápias vendidas em grande volume nestas redes vêm de empresa baseadas na America Latina e Indonésia. Muito em breve, teremos produção local de alta qualidade criada em sistemas aquafuelsponics em projetos que estamos trabalhando.

Uma das maiores preocupações destas redes são os contaminantes e o monóxido de carbono usado pelos chineses para manter a falsa aparência fresca dos peixes. Este artifício totalmente condenado em muitos países, é prática comum nos filés congelados chineses.

Vários redes de restaurantes também já baniram a Tilápia chinesa dos seus cardápios. Eles seguem as orientações e recomendacões das organizações não governamentais que fazem listas dos pescados que devem ser evitados nos cardápios dos americanos. A Tilápia chinesa está no top das listas vermelhas de todos as listas. Contudo, a Tilápia cultivada localmente está no top dos peixes recomendados.

Nem Tudo São Maravilhas para os Produtores Chineses

Contudo, nem tudo são maravilhas e flores para os produtores chineses. Na nossa opinião, a tilapicultura deste grande país asiático está quase que completamente aprisionada pela pressão dos mega compradores como o Wal-Mart (como diz aquele ditado: Wal-Mart paraíso dos consumidores e inferno dos fornecedores) exigindo preços cada vez mais baixos, para vender cada vez mais barato em completo detrimento e quase destruição dos produtores locais.

Fazendas de Tilápia Chinesa em Tanques-Rede (clique para ampliar)

Na realidade, os produtores chineses estão à mercê dos compradores que exigem preços cada vez mais baixos, mesmo com os custos aumentando continuadamente ao longo da cadeia de produção. Com a economia chinesa em expansão, os custos subiram aceleradamente. Custos da terra, ração, insumos, mão de obra, tudo e o resto estão em alta na China atual, como em nossos países.

Neste esquema é muito dificil fazer dinheiro com peixe voltado 100% para exportação. Isto já vem sendo sentido intensamente, pois, dados divulgados mostram que somente o ano passado , 10 % dos agricultores de Tilápia da região de Zhanjiang desistiu da produção aquícola de tilápia.

Isto é, a Tilápia da China se colocou numa faixa de produtos de segunda e terceira qualidade identificados por qualquer consumidor que ninguem quer pagar mais por estes produtos. Isto além de marcar penosamente o produto, sempre o coloca  numa condição inferior a qualquer outro presente nas prateleiras. Para sair desta situação muito coisa tem de acontecer de lado deles.

Qual o Futuro da Aquicultura nas Américas?
Membro da Associação dos Jovens Criadores de Tilápia de Jatobá

Entendemos que este é um momento estratégico e de oportunidade para o setor Aquícola das Américas. Devemos reagir e conclamar nossos líderes fomentarem e estimularem a aquiculturas local.

Países como o Brasil que tem imenso potencial aquícola,  modelos vitoriosos como o do Padre Antonio e Ivone (Projeto das Associações de Piscicultores do Padre Antonio e Ivone Trazendo Dignidade e Renda de 2-4 Salários Mensais ), mercado importador e forte demanda anual e sazonal de pescado, devem fazer da aquicultura um instrumento gerador de rendas e prosperidade para os produtores nacionais.

Temos de concentrar em qualidade e diversificar os produtos oferecidos. Pratos “ready-to-eat” prontos para o microonda, outros produtos de valor agregado e subprodutos como o biocombustível aquícola  devem estar na lista de prioridades.

A despeito da enxurrada de tilápia de baixo custo e baixíssima qualidade de origem chinesa, os produtores das Américas podem e têm condição de competir nos seus próprios mercados com produtos locais e de valor agregado de alta qualidade. Vamos a luta!!!

Se você acredita na aquicultura nacional, vamos divulgar este post o máximo possível. Nossos líderes e os que têm o poder de decisão precisam ler estas informações. Todos nós do MyBeloJardim e o Setor Aquícola Nacional agradeçem de coração.

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