2010: Brasil Importa US $1 Bilhão em Pescados – Enquanto Vietnã Exporta US $1,4 Bilhões Somente com Pangasius

Primeira Despeca da Primeira Associação de Tanques Redes do Padre Antonio e Ivone no Lago Moxotó-Chesf em Jatoba-PE-BRA – Hoje já São 9 Associações

O Brasil importou um recorde jamais visto de mais de $ 1 bilhão de dólares em peixes, crustáceos, moluscos, etc e suas preparações no ano passado.

Precisamento foi USD $1.001.432.125 ( 1 bilhão, 1 milhão, quatrocentos e trinta e dois mil e cento e vinte e cinco dólares)  comparados com USD $714.980.714 importados em 2009.

Enquanto isto, as exportações do Pangasius feitas pelo Vietnã atingiram um volume de  645 mil toneladas ou US $ 1,4 bilhões de dólares em 2010, segundo dados revelados pelo Ministério de Agricultura e Associação dos Exportadores e Produtores de Pescados deste país asiático.

Pagansius produz um filé de excelente qualidade, superior sabor, alto rendimento e é muito mais fácil de cultivar do que a Tilápia.

Panga é um excelente substituto para peixes de carne branca como o Salmão e Bacalhau e opção privilegiada para desenvolvimento de produtos de valores agregados.  O óleo feito das partes não comestíveis pode ser transformado em biodiesel de ótima qualidade.

Incompreensivelmente, como pode ser visto na tabela mais abaixo deste artigo, dados da MDIC-SECEX indicam que de Jan-Dez de 2010 o Brasil importou 286.2 mil toneladas no valor  US $1.001,4 bilhão de dólares em pescados e tão somente exportou US $216,4 milhões de dólares com um saldo negativo de US $785,0 milhões de dólares.

Isto representou um aumento de US $286,4 milhões de dólares nas importações brasileiras quando comparadas com o mesmo período em 2009.  Somente de peixes (bacalhaus, salmões e merluzas) o Brasil importou  de Jan-Dez de 2010 US $427,8 milhões de dólares.  O Panga do distante Vietnã faz parte destas importações.

Conforme mostramos na foto acima e anteriormente o estímulo e fomento da aquicultura sustentável somente nos reservatórios do Chesf  no Vale do Rio São Francisco poderiam facilmente produzir e gerar valores iguais ou maiores dos obtidos pelo Panga vietnamita (Projeto das Associações de Piscicultores do Padre Antonio e Ivone Trazendo Dignidade e Renda de 2-4 Salários Mensais).

Isto mostra claramente a necessidade de o Brasil ter um setor aquícola nacional fortalecido, estimulado e apoiado. Uma só espécie poderia trazer para o Brasil bilhões de dólares em exportações criando empregos, riqueza e renda para milhares de pequenos e médios produtores sem falar no suprimento garantido da demanda local.

Ao analisar o imenso potencial aquícola do Brasil comparado com sua baixa posição no ranking mundial do cultivo de pescados,  não há justificativa alguma para a Nação esteja onde está em aquicultura enquantos outros, como o país asiático, faturam bilhões anualmente.

Neste artigo vamos fazer algumas análises comparativas entre os dois países. Esperamos que estes dados possam despertar os que têm poder de decisão para ver as grandes possibilidades da aquicultura nacional se estimulada corretamente.

O Vietnã e seus Recursos Hídricos

Segundo dados do Banco Mundial, o Vietnã tem uma população de 88,5 milhões de habitantes e uma área territorial de 329,5 mil quilômetros quadrados, quase duas vezes menor do que a Bahia (564,7 mil km2) ou um pouco menor do que o estado do Maranhão (331,9 mil km2).

O país tem um formato de um longo S alongado cuja largura de sua região central não passa de 40 quilométros e cujo dois terços de suas águas são originados em outros países.

Seus dois maiores rios, Vermelho e Mekong são compartilhados com seis países vizinhos China, Burma, Thailand, Laos, Myanmar e Cambodia. Sendo que o Myanmar não quer nem ouvir falar em internacional cooperação ou comum legislação.

Poluição local e trazida pelos países vizinhos é um problema seríssimo enfrentado pelo Vietnã. As águas do Mekong são conhecidas pelos níveis altos de contaminacão e despejos industriais.

A Indústria do Pangasius

Bem, o Vietnã, como temos mostrado em vários posts passados (O Que Tem o Pangasius de Tão Especial?)  é o líder mundial da Indústria do Pangasius, um dos mais dinâmicos setores da aquicultura do planeta faturando $bilhões de dólares anualmente e criando milhares de empregos para o setor primário vietnamita.

A aquicultura do Pangasius praticamente baseada em uma só especie, Pangasianodon hypothalamus, é uma de mais rápido crescimento em todo o mundo, sendo que vários outros países como India e as Filipinas estão estimulando e promovendo também o cultivo deste peixe.

A maioria do Pangasius – vulgarmente conhecido como Basa, tra, vietnamita bagre, asiático bagre, e sapateiro do rio (river cobbler) – é produzida nas fazendas no Vietnã. Até 1990, vejam tão somente 20 anos passados, a aquicultura do Pangasius era uma indústria pequena, inexpresiva e sem nenhuma ou zero presença internacional.

Mas em 2010, a realidade é bem outra, mais de 1 milhão de toneladas de pangasius foram produzidos no Vietnã com um faturamente em exportações de quase  1 e meio bilhões de dólares.

Métodos de Reprodução e Cultivo do Panga

Em artigos seguintes vamos descrever em maiores detalhes as técnicas de reprodução e cultivo do Pangasius. Aqui vamos apresentar um resumo.  O período de engorda deste peixe até atingir o peso de mercado dura tão somente cerca de 6 meses. Isto significa que é sempre possível obter duas colheitas por ano.

O ciclo de produção geralmente se inicia com a produção de alevinos através da desova induzida ou nossa conhecida fecundação artificial de peixes desenvolvida no DNOCS nos anos 30’s pelo memorável cientista brasileiro Rodolfo Teodoro Gaspar Wilhelm von Ihering (1883-1939), Isto é hipofisação, fertilização e eclosão em incubadouras.  Os reprodutores atingem maturidade ao redor de 2 anos de vida.

Os ovos fertilizados são transferidos para as Incubadouras. Em seguida, as larvas recém-eclodidas são levadas para tanques até atingirem 20-30 gramas já como alevinos quando então são colocados em viveiros, baías ou tanques-rêde  O método de cultivo mais utilizado e mais rentável é o cultivo em viveiros, embora tanques-rêde estejam crescendo muito.

Os viveiros são normalmente de 1 ha, mas podem chegar até 10 ha. As taxas de estocagem são cerca de 60-80 peixes/m3 ou muito mais e requerem troca de água de 20-30 por cento duas vezes por semana. Eles usam água bombeada.

Fertilizantes não são utilizados na cultura do peixe Pangasius, mas às vezes produtos químicos e drogas são usados para tratar / prevenir doenças e outras questões de saúde.

Alimentação é bem similar a que usamos para Tilápia e  varia de acordo com o tamanho da fazenda. Fazendas de grande porte usam ração balançeadas com teores proteícos de 28 a 32 porcento e 6 por cento de gorduras

A taxa de conversão alimentar típica (TCA) é 1,5-1,8. Fazendas pequenas usam rações úmidas baseadas quase que totalmente em produtos agrícolas e, portanto, têm maior TCA que varia de 2,8 a 3,0.

Após Pangasius atingir o tamanho comercial (1 a 1,5 kg) os peixes são recolhidos com rêdes. Em seguida, são levados vivos para as unidades de processamento, onde são eviscerados para o mercado de peixe inteiro ou filetados e classificados por cores o que determina o seu preço e onde eles serão vendidos.

Os peixes são geralmente embalados em uma combinação de plástico e papelão para ser enviados ao mercado.

Com a força e punjança de um setor aquícola revigorado, o peixe Panga e seus produtos de valor agregado já estão sendo exportados para mais de 150 países, atendendo os requesitos exigidos pela União Européia, Austrália, os EUA, Japão e outros mercados mundiais de pescado.

O Potencial do Brasil para Aquicultura

Agora vejamos a situação do Brasil que é a oitava economia do mundo, tem 10 milhões de hectares de lâmina d’água em reservatórios de usinas hidrelétricas e propriedades particulares no seu interior, e detém 13,7% do total da reserva de água doce disponível no mundo, além do potencial das grandes bacias hidrográficas para produção aquícola.

O País tem quatro grandes bacias hidrográficas: Amazônica com 3.984.467 km2 em terras brasileiras; Tocantins-Araguaia com área de 803.250 Km2; São Francisco com extensão é de 631.133 km2 e quase com a mesma dimensão da do Rio Mekong; e a Platina além de rios como Parnaíba na divisa dos estados do Maranhão do Piauí.; Ribeira de Iguape e rio Paraíba do Sul no estado de São Paulo; Itajaí em Santa Catarina, e dia por diante.

No lado marítimo, o Brasil tem 8,5 mil km de costa marítima, com uma Zona Econômica Exclusiva de 4 milhões de quilômetros quadrados, o que significa metade do território brasileiro.

Além disto, ja passou o tempo quando precisávamos de muita água e grandes áreas para cultivar pescados e fomentar aquicultura, hidroponia e produção de biocombustíveis em larga escala.

Hoje temos tecnologia de ponta, tais como os sistemas AquaBioPonics-AquaFuelsPonics, de cultivo em recirculação que usa ambientes controlados e onde a mesma água é recondicionada, reusada e recirculada continuadamente.

Estes sistemas avançados requerem pequenas áreas podendo ser implementados e localizados junto as regiões metropolitanas e perto de mercados consumidores.

Os sistemas AquaBioPonics-AquaFuelsPonics são baseados na tecnologia espacial de compartilhamento de recursos, maximização de fatores produtivos e múltiplos uso dos componentes críticos dos sistemas e processos.

Quadro das  Importações e Exportações de Pescados do Brasil em 2010

Valores em US dólares da Balança Comercial (importações e exportações) de Pescados do Brasil de Janeiro a Dezembro de 2010 – Dados do MDIC-SECEX

IMPORTAÇÕES Valor em US $
TOTAIS: PEIXES,CRUSTÁCEOS,MOLUSCOS,ETC.E SUAS PREPARAÇÕES US $1.001.432.125
BACALHAUS E OUTS.PEIXES SECOS,MESMO SALG.MAS NÃO DEFUM. US $272.649.390
SALMÕES-DO-PACÍFICO,ETC.FRESCOS,REFRIG.EXC.FILES,ETC. US $161.974.250
FILÉS DE PEIXES CONGELADOS,EXCETO DE MERLUZA US $147.242.191
FILÉS DE MERLUZA CONGELADOS US $118.588.489
DEMAIS PESCADOS US $300.977.805
EXPORTAÇÕES TOTAIS DE PESCADOS US $216.417.272
CAMARÃO CONGELADO US $15.451.605
LAGOSTA CONGELADA US $80.735.207
PEIXES CONGELADOS,FRESCOS OU REFRIGERADOS US $80.735.207
DEMAIS PESCADOS US $39.495.253
Saldo (negativo) da Balança Comercial de Pescados (-)US $785.014.853

Fonte: MDIC-SECEX

O quadro acima com dados do MDIC-SECEX mostra que Brasil importou em 2010 USD $1.001.432.125 ( 1 bilhão, 1 milhão, quatrocentos e trinta e dois mil e cento e vinte e cinco dólares) em peixes, crustáceos, moluscos,etc. e suas preparações e tão somente exportou USD $216.4 milhões de dólares com um recorde saldo negativo de US $785,01 milhões de dólares.

Estes dados mostram que o setor pesqueiro nacional está cada vez mais dependente das importações.  O Brasil importando mais de um bilhão de dólares em pescado tendo todo este potencial aquícola e tecnológico às suas mãos!!!

Estes numeros só podem ser revertidos se a aquicultura brasileira for prioritizada e dado o devido estimulo e reconhecimento.

Ao verificarmos com fatos a pujança e dinamismo da indústria do Pangasius no Vietnã, e sabendo que é muito mais facil cultivar Panga do que mesmo Tilápia, muitas indagações ficam no ar com relação a aquicultura brasileira.

Não dá para conceber como o Brasil tendo todo estes recursos aquáticos e acrescentado a isto conhecimento, autoridades mundiais no setor, tecnologia, modelos com sucesso comprovados e com um décimo das espécies de peixes do mundo (~ 5.000) ocorrendo na Amazônia, tem de importar peixes da China e Vietnã para suprir a demanda interna (Por que Os Peixes Amazônicos Não São Ainda Estrelas Mundiais em Aquicultura?).

Enquanto vemos aquiculturas como a do Pangasius dispararem, o Brasil continua importando US $427 milhões de dólares somente em peixes e sem devidamente explorar sua aquicultura ficando bem aquém das suas possibilidades e capacidades.

Vejam quanto demorou ou demora em se obter uma licença de tanques-rêde nos lagos do rio São Francisco e outros reservatórios  nação afora. A realidade é que poderiámos ser uma potência mundial aquícola se tivessemos realmente um planejamento voltado para o setor com infraestrutura, programas e estímulos.

Falando claramente, se tão somente não criassem tanta burocracia e impedimentos deixando o setor privado deslanchar por si próprio, já seria uma estímulo imprecendente para a aquicultura nacional.

Finalizando, somos defensores incansáveis da aquicultura nas Américas, acreditamos que nossos países têm tudo para chegar lá. Que este novo ano seja cheio de avanços e desenvolvimento sustentáveis para os setores aquícola e de energia renovável dos nossos países.

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